" Basicamente, se nós queremos uma escola diferente, se queremos mudar a escola, ou se simplesmente, não estamos gostando da nossa prática, isto significa que devemos estar disponíveis, desejosos, querendo, assumindo, enfrentando e pensando..."
Madalena Freire



quinta-feira, 16 de maio de 2013

Entrevista pela PAZ


Como forma de fortalecimento do tema do CEART, - "Cultura da Paz: um exercício para a convivência humana", o Blog do CEART Mário Gusmão entrevistou Jaildon Jorge Amorim Goes, professor da Rede desde de 2005, Arte-Educador, Artista Visual e Arteterapeuta. Atua na rede estadual e também na municipal (nesta desde 2005).  É trabalhador PROPAZ (Instituto Potência de Paz), coordenado pela psicóloga Ruth Brasil Mesquita, que promove atividades pela construção e divulgação da Cultura da Paz e Não-Violência Ativa. Mantém atualuzado um blog com informações sobre Educação pela Cultura da Paz e em uma página do Facebook. Faz palestras, seminários e coordena atividades artísticas em instituições públicas e privadas, organizações não governamentais, entre outros.


1Blog Ceart Mário Gusmão-  Por que trabalhar Cultura de Paz é um tema urgente nas Escolas?

Jaildon Jorge - Porque é uma necessidade da nossa sociedade contemporânea, uma grande reivindicação
universal, onde grupos e organizações dos mais diversos tipos promovem a necessidade de juntos construirmos
uma Cultura da Paz.
Estamos vivendo uma espécie de cultura materialista que se desdobra na cultura da violência, da criminalidade,
do individualismo, da inversão de valores e da banalização do mal que se reflete consequentemente nas Escolas.
A violência da escola, na escola, contra e no entorno da escola é consequência de uma sociedade violenta, e a
Educação para a Paz torna-se uma das alternativas para se superar e restaurar a harmonia no conflito no próprio
meio educacional.
Por conta da desigualdade social que impera em todo o Brasil, em especial, na cidade de Salvador, a violência
de todos os tipos e níveis, acaba tornando-se assim um lugar comum; surgindo assim à necessidade de
substituirmos os padrões violentos, pelas ações construtivas, positivas e proativas baseadas na Educação para
Cultura da Paz e Não Violência Ativa.
Sabemos que é um grande desafio educar para a paz, em tempos de uma cultura de violência, onde todos
sofrem, mas nem todos os envolvidos no processo sociocultural e educacional abdicam do seu papel de vítima
de uma sociedade desigual e desregrada, abrem mão e de um comportamento inerte, acomodatício e alienado.
Portanto, o que necessitamos neste momento, é de pessoas empreendedoras que aceitem o desafio de
enfrentamento da realidade e busquem desta forma, comprometer-se com as mudanças necessárias para a
existência de uma vida e de uma escola verdadeiramente mais democrática, pacífica, humana, amorosa, inclusiva
e de qualidade.
A paz precisa ser cultivada, construída! É preciso educar para a paz, onde as pessoas tenham a oportunidade
de pensar, sentir, falar e agir pela paz cotidianamente. Devemos celebrá-la, assim como celebramos a vida,  ou
seja, criar-se uma Cultura da Paz!

Blog CMG - Quais são os principais caminho para se trabalhar o tema no ambiente escolar?
JJ - Segundo Mahatma Gandhi: "Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho". O que ele quis dizer é que a só alcançaremos, trabalhando para a construção da Cultura (das culturas) da Paz e não por outros caminhos, principalmente o da força, guerra, tratados e da violência.
Cada ambiente escolar deve buscar o seu caminho para a paz, de acordo a uma profunda reflexão sobre as necessidades do seu contexto sociocultural. Com isso, o caminho para se trabalhar a paz nas escolas e na vida, deve orientar-se de acordo as seguintes dimensões/ações:
·         Consciência Pessoal: suas ações levam a aprendizagem na busca pelo contato harmonioso consigo mesmo, através do autoconhecimento e da autotransformação, bastando apenas ter a vontade e a coragem de lutar pela natureza verdadeira. No nível pessoal a paz se dá no aspecto físico, emocional, mental sexual, psicoespiritual; com o esforço pela: individuação, a busca de sentido para a vida, libertação e desindentificação com a massificação.

·         Consciência Social: suas ações levam a aprendizagem na busca pelo contato harmonioso com os outros: familiares, amigos, vizinhos... Aprendendo a amar, dialogar, conviver, respeitar, tolerar, compreender, aceitar, perdoar, compartilhar... E também empreender alguma bandeira social (solidariedade, caridade ou fraternidade). No nível social a paz se dá no próprio aspecto social, que se desdobra no econômico, cultural, político, familiar e religioso; com o esforço pela: justiça social, equanimidade, cidadania e validação dos direitos humanos.

·         Consciência Ambiental: suas ações levam a aprendizagem da buscar pelo contato harmonioso com a Terra e seus recursos, cuidando deste lugar que é nosso e que ao mesmo tempo somos nós mesmos; é preciso que cada um se reconheça como parte integrante dos vegetais, dos animais e dos minerais e de todo o cosmo. No nível ambiental a paz se dá no aspecto cósmico, natural, global; com o esforço pela: cuidado/preservação, amor e sustentabilidade.
A Educação para a Paz deve ser Integral e Holística, ou seja, o indivíduo visto como Ser Integral; as crianças, jovens e ou adultos aprenderão o tema paz como resolução de conflitos de forma criativa, proativa e positiva; a paz deve ser trabalhada como tema transversal através de atividades inter e transdisciplinares; a metodologia deve ser construtiva, dialógica e mediadora; a Arte e suas linguagens serão facilitadoras da construção desta cultura e enfim, as atividades devem promover aprendizagens e experiências significativas, pois é pela experimentação e pela vivência de valores pacíficos na ação, que possibilitaremos aos educandos a construção de uma consciência lúcida que os levarão a comportamentos mais sensatos, pacíficos, éticos e humanizados.                                                                                        

Blog CMG -O conceito sobre Cultura de Paz ainda é muito mal interpretado. Como simplificar sua ideia central?

JJ - No contexto da Cultura da Paz, a palavra paz é utilizada como princípio ou valor humano em ação que significa Harmonia, diferente de outros conceitos comuns que deturpam e limitam o seu verdadeiro sentido, onde a paz é vista como estado de tranquilidade e serenidade caracterizada pela ausência de hostilidades, violências, guerras e conflitos violentos. 
Como disse anteriormente a paz é um processo em ação e um grande movimento em curso (transforma-a-ação); com isso, é possível entender que Cultura da Paz: é um conjunto de conhecimentos que busca a consciência, a compreensão, a transformação e a consolidação de atitudes pacíficas, pacificadoras e pacifistas nas relações humanas, nos níveis: pessoal, social e ambiental. 
A paz é muitas vezes mal interpretada por conta de uma construção ideológica perversa, incoerente e deturpada que criam conceitos romantizados e ingênuos que beiram a utopia e a certo modismo. Surge assim à necessidade de superar os conceitos simplistas e simplificadores, evoluindo assim para uma visão mais positiva da paz, de harmonia mesmo que nos conflitos, associada a planos de ação que possibilitem às experiências humanizadoras: como justiça social, igualdade na diversidade, respeito aos direitos humanos, convivência digna, democracia, sustentabilidade, etc.
 A paz, assim como o amor muitas vezes são valores não muito bem-vindos e vistos para determinados sistemas socioculturais, políticos e econômicos, porque a paz ajuda na ampliação da percepção e da consciência humana, jamais violando-as; ou seja, a paz carrega uma ideologia que promove justamente o processo de libertação, humanização  e transformação pessoal, social e ambiental dos indivíduos, totalmente contrária a estes sistemas que insistem em manter indivíduos ignorantes e alienados de si mesmos e da sua realidade.

Blog CMG - Como a Arte-educação pode dialogar com o tema e tornar eficiente esta troca?

JJ - Na pergunta anterior pontuei que a Arte e suas Linguagens, (Teatro, Dança, Música, Artes Visuais e Literatura) são facilitadoras desta aprendizagem; os motivos são muitos, mas, antes de citá-los seria interessante compreender que a inter-relação dos conhecimentos entre estas duas áreas de conhecimento, possibilita a investigação e a elaboração de ações artísticas e estéticas no contexto da Educação para a Cultura da Paz.
A Arte é uma manifestação cultural que nos liberta das raias da ignorância pessoal, social e ambiental; humaniza-nos e respeita de forma mais ampla a nossa inteligência, além de incentivar todo um estado de sensibilização do ser.
A Arte também nos possibilita perceber o mundo de uma forma mais ampla e reflexiva e também nos permite construir outras realidades, criar, cocriar e recriar novas perspectivas para o mundo. Com isso, devemos oportunizar aos educandos todas as Linguagens de Arte nas escolas; pois com a Arte, eles terão a possibilidade de vivenciar experiências estéticas humanizadoras no confronto com as situações de contradição, de incerteza e da violência que caracterizam a sociedade contemporânea, fomentando possíveis estratégias de transformação de uma forma crítica e contestadora, porém, de maneira mais ética, flexível, dialógica, amorosa e pacífica.
Daí o fazer poético e estético deverá impregnar-se com a cotidianidade dos conceitos, reflexões e ações que fundamentam a Cultura da Paz, como possibilidade de vislumbrar a modificabilidade do comportamento dos educandos, incluindo o Amor (afetividade) como possibilidade de sustentação das mudanças.
Enfim, a Arte e a Paz, a combinação perfeita! Assim como a Cultura da Paz, a Arte também nos ajuda  naquilo que é uma necessidade da nossa sociedade, que é o processo de transforma a ação da realidade, no campo do possível e do impossível.

Blog CMG - Quais fontes professores e gestores escolares podem beber para familiarizar-se mais com o tema e replicar no seu dia a dia?

JJ - A paz tem uma construção sociohistórica e cultural desde as primeiras civilizações até os dias de hoje, os homens vêm criando tratados, feito estudos e reflexões sobre a paz como proposta de harmonização da sociedade. As fontes são muitas, desde documentos feitos por organizações internacionais e nacionais até uma imensa bibliografia de pesquisa, das quais, eu posso citar:

1-      REFLEXÕES SOBRE A PAZ. RUTH BRASIL MESQUITA - ROBERTO ASSAGIOLI.  EDIÇÕES PROPAZ;
2-      A ARTE DE VIVER EM PAZ (PARA UMA NOVA CONSCIÊNCIA / POR UMA NOVA EDUCAÇÃO). PIERRE WEIL.  EDITORA GENTE;
3-      EDUCAR PARA A PAZ EM TEMPOS DIFÍCEIS.  JESUS R. XÁRES. EDITORA PALLAS ATHENAS;
4-      EDUCAÇÃO PELA PAZ (UM GUIA PARA PAIS, PROFESSORES E TODOS OS ESTUDADNTES DA VIDA). CLÓVIS NUNES. EDITORA CASA DA PAZ ;
5-      EDUCAÇÃO PARA A PAZ (SUA TEORIA E SUA PRÁTICA). XESÚS R. JARES.M ARTMED EDITORA;
6-      A PAZ TAMBÉM SE APRENDE. NAOMI DREW. EDITORA GAIA;
7-      APRENDER NA VIDA, APRENDER NA ESCOLA. T. DEICAL. ARTMED EDITORA;
8-      AULAS DE TRANFORMAÇÃO (PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS). MARILU MARTINELLI. FUNDAÇÃO PEIRÓPOLIS EDITORA;
9-       CONVERSA SOBRE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS. MARILU MARTINELLI. FUNDAÇÃO PEIRÓPOLIS EDITORA;
10-   A PAZ DE ESPÍRITO (PARA VIVER BEM CONSIGO E COM OS OUTROS). ANA PERWIN FRAIMAN. EDITORA GENTE;
11-   COMO RESTAURAR A PAZ NAS ESCOLAS. (UM GUIA PARA EDUCADORES). ANTÔNIO OSÓRIO NUNES. EDITORA CONTEXTO;
12-   A PAZ É O CAMINHO (ACABANDO COM A GUERRA E A VIOLÊNCIA). DEEPAK CHOPRA. EDITORA ROCCO;
13-   BLOG EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA DA PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA  =   http://educapaz-jaiartes.blogspot.com/;
14-   PÁGINA DO FACEBOOK EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA DA PAZ E NÃO VIOLÊNCIA ATIVA: https://www.facebook.com/jaiartes;
15-  PÁGINA DO EDUCAPAZ (EDUCAÇÃO PARA A PAZ): http://www.educapaz.org.br/;
16-  PÁGINA DA UNESCO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA): http://www.unesco.org.br;
17-  PÁGINA DA UNIPAZ (UNIVERSIDADE DA PAZ): www.unipaz.org.br
18-  CULTURA DA PAZ, NÃO VIOLÊNCIA E DIREITOS HUMANOS: http://www.culturadapaz.com;
19-  INSTITUTO SOU DA PAZ: http://www.soudapaz.org.br.
20-  ETC.