Como forma de fortalecimento do tema do CEART, - "Cultura da Paz: um exercício para a convivência humana", o Blog do CEART Mário Gusmão entrevistou Jaildon Jorge Amorim Goes, professor da Rede desde de 2005, Arte-Educador, Artista Visual e
Arteterapeuta. Atua na rede estadual e também na municipal (nesta desde 2005). É trabalhador PROPAZ (Instituto Potência
de Paz), coordenado pela psicóloga Ruth Brasil Mesquita, que promove atividades
pela construção e divulgação da Cultura da Paz e Não-Violência Ativa. Mantém atualuzado um blog com informações sobre Educação pela Cultura da Paz e em uma página do
Facebook. Faz palestras, seminários e coordena atividades artísticas em
instituições públicas e privadas, organizações não governamentais, entre outros.
1Blog Ceart Mário Gusmão- Por que trabalhar Cultura de Paz é um
tema urgente nas Escolas?
Jaildon Jorge - Porque é uma necessidade da nossa sociedade
contemporânea, uma grande reivindicação
universal, onde grupos e organizações
dos mais diversos tipos promovem a necessidade de juntos construirmos
uma
Cultura da Paz.
Estamos vivendo uma espécie de cultura materialista
que se desdobra na cultura da violência, da criminalidade,
do individualismo, da
inversão de valores e da banalização do mal que se reflete consequentemente nas
Escolas.
A violência da escola, na
escola, contra e no entorno da escola é consequência de uma sociedade violenta,
e a
Educação para a Paz torna-se uma das alternativas para se superar e
restaurar a harmonia no conflito no próprio
meio educacional.
Por conta da desigualdade social que impera em todo o
Brasil, em especial, na cidade de Salvador, a violência
de todos os tipos e
níveis, acaba tornando-se assim um lugar comum; surgindo assim à necessidade de
substituirmos os padrões violentos, pelas ações construtivas, positivas e
proativas baseadas na Educação para
Cultura da Paz e Não Violência Ativa.
Sabemos que é um grande desafio educar para a paz, em
tempos de uma cultura de violência, onde todos
sofrem, mas nem todos os
envolvidos no processo sociocultural e educacional abdicam do seu papel de
vítima
de uma sociedade desigual e desregrada, abrem mão e de um comportamento inerte,
acomodatício e alienado.
Portanto, o que necessitamos neste momento, é de
pessoas empreendedoras que aceitem o desafio de
enfrentamento da realidade e
busquem desta forma, comprometer-se com as mudanças necessárias para a
existência de uma vida e de uma escola verdadeiramente mais democrática, pacífica,
humana, amorosa, inclusiva
e de qualidade.
A paz precisa ser cultivada, construída! É preciso
educar para a paz, onde as pessoas tenham a oportunidade
de pensar, sentir,
falar e agir pela paz cotidianamente. Devemos celebrá-la, assim como celebramos
a vida, ou
seja, criar-se uma Cultura da
Paz!
Blog CMG - Quais são os
principais caminho para se trabalhar o tema no ambiente escolar?
JJ - Segundo Mahatma Gandhi: "Não existe um caminho para a
paz. A paz é o caminho". O que ele quis dizer é que a só alcançaremos,
trabalhando para a construção da Cultura (das culturas) da Paz e não por outros
caminhos, principalmente o da força, guerra, tratados e da violência.
Cada ambiente escolar deve buscar o seu caminho para a paz,
de acordo a uma profunda reflexão sobre as necessidades do seu contexto
sociocultural. Com isso, o caminho para se trabalhar a paz nas escolas e na
vida, deve orientar-se de acordo as seguintes dimensões/ações:
·
Consciência Pessoal: suas ações levam a aprendizagem na
busca pelo contato harmonioso consigo mesmo, através do autoconhecimento e da
autotransformação, bastando apenas ter a vontade e a coragem de lutar pela
natureza verdadeira. No nível pessoal a paz se dá no aspecto físico, emocional,
mental sexual, psicoespiritual; com o esforço pela: individuação, a busca de
sentido para a vida, libertação e desindentificação com a massificação.
·
Consciência Social: suas ações levam a aprendizagem
na busca pelo contato
harmonioso com os outros: familiares, amigos, vizinhos... Aprendendo a amar,
dialogar, conviver, respeitar, tolerar, compreender, aceitar, perdoar,
compartilhar... E também empreender alguma bandeira social (solidariedade,
caridade ou fraternidade). No nível social a paz se dá no próprio aspecto
social, que se desdobra no econômico, cultural, político, familiar e religioso;
com o esforço pela: justiça social, equanimidade, cidadania e validação dos direitos
humanos.
·
Consciência Ambiental: suas ações levam a aprendizagem
da buscar pelo contato
harmonioso com a Terra e seus recursos, cuidando deste lugar que é nosso e que
ao mesmo tempo somos nós mesmos; é preciso que cada um se reconheça como parte
integrante dos vegetais, dos animais e dos minerais e de todo o cosmo. No nível
ambiental a paz se dá no aspecto cósmico, natural, global; com o esforço pela:
cuidado/preservação, amor e sustentabilidade.
A Educação para a Paz deve ser Integral e Holística, ou seja,
o indivíduo visto como Ser Integral; as crianças, jovens e ou adultos
aprenderão o tema paz como
resolução de conflitos de forma criativa, proativa e positiva; a paz deve ser
trabalhada como tema transversal através de atividades inter e
transdisciplinares; a metodologia deve ser construtiva, dialógica e mediadora;
a Arte e suas linguagens serão facilitadoras da construção desta cultura e
enfim, as atividades devem promover aprendizagens e experiências significativas,
pois é pela experimentação e pela vivência de valores pacíficos na ação, que
possibilitaremos aos educandos a construção de uma consciência lúcida que os levarão a comportamentos mais sensatos,
pacíficos, éticos e humanizados.
Blog CMG -O conceito sobre
Cultura de Paz ainda é muito mal interpretado. Como simplificar sua ideia
central?
JJ - No contexto da Cultura da Paz, a palavra paz é utilizada como
princípio ou valor humano em ação que significa Harmonia, diferente de outros conceitos
comuns que deturpam e limitam o seu verdadeiro sentido, onde a paz é vista como
estado de tranquilidade e serenidade caracterizada pela ausência de
hostilidades, violências, guerras e conflitos violentos.
Como disse anteriormente a paz é um processo em ação e um
grande movimento em curso (transforma-a-ação); com isso, é possível entender
que Cultura da Paz: é um conjunto de conhecimentos que busca a consciência, a
compreensão, a transformação e a consolidação de atitudes pacíficas,
pacificadoras e pacifistas nas relações humanas, nos níveis: pessoal, social e
ambiental.
A paz é muitas vezes mal interpretada por conta de uma
construção ideológica perversa, incoerente e deturpada que criam conceitos romantizados
e ingênuos que beiram a utopia e a certo modismo. Surge assim à necessidade de
superar os conceitos simplistas e simplificadores, evoluindo assim para uma
visão mais positiva da paz, de harmonia mesmo que nos conflitos, associada a
planos de ação que possibilitem às experiências humanizadoras: como justiça
social, igualdade na diversidade, respeito aos direitos humanos, convivência
digna, democracia, sustentabilidade, etc.
A paz, assim como o
amor muitas vezes são valores não muito bem-vindos e vistos para determinados sistemas
socioculturais, políticos e econômicos, porque a paz ajuda na ampliação da
percepção e da consciência humana, jamais violando-as; ou seja, a paz carrega uma
ideologia que promove justamente o processo de libertação, humanização e transformação pessoal, social e ambiental
dos indivíduos, totalmente contrária a estes sistemas que insistem em manter
indivíduos ignorantes e alienados de si mesmos e da sua realidade.
Blog CMG - Como a Arte-educação
pode dialogar com o tema e tornar eficiente esta troca?
JJ - Na pergunta anterior pontuei que a Arte e suas Linguagens,
(Teatro, Dança, Música, Artes Visuais e Literatura) são facilitadoras desta
aprendizagem; os motivos são muitos, mas, antes de citá-los seria interessante
compreender que a inter-relação dos conhecimentos entre estas duas áreas de
conhecimento, possibilita a investigação e a elaboração de ações artísticas e estéticas
no contexto da Educação para a Cultura da Paz.
A Arte é uma manifestação cultural que nos liberta das raias
da ignorância pessoal, social e ambiental; humaniza-nos e respeita de forma
mais ampla a nossa inteligência, além de incentivar todo um estado de
sensibilização do ser.
A Arte também nos possibilita perceber o mundo de uma forma
mais ampla e reflexiva e também nos permite construir outras realidades, criar,
cocriar e recriar novas perspectivas para o mundo. Com isso, devemos
oportunizar aos educandos todas as Linguagens de Arte nas escolas; pois com a
Arte, eles terão a possibilidade de vivenciar experiências estéticas humanizadoras no confronto com
as situações de contradição, de incerteza e da violência que caracterizam a
sociedade contemporânea, fomentando possíveis estratégias de transformação de
uma forma crítica e contestadora, porém, de maneira mais ética, flexível,
dialógica, amorosa e pacífica.
Daí o fazer poético e estético deverá impregnar-se com a
cotidianidade dos conceitos, reflexões e ações que fundamentam a Cultura da
Paz, como possibilidade de vislumbrar a modificabilidade do comportamento dos educandos, incluindo o
Amor (afetividade) como possibilidade de sustentação das mudanças.
Enfim, a Arte e a Paz, a combinação perfeita! Assim como a
Cultura da Paz, a Arte também nos ajuda naquilo que é uma necessidade da nossa
sociedade, que é o processo de transforma a ação da realidade, no campo do
possível e do impossível.
Blog CMG - Quais fontes
professores e gestores escolares podem beber para familiarizar-se mais com o
tema e replicar no seu dia a dia?
JJ - A paz tem uma construção sociohistórica e cultural desde as
primeiras civilizações até os dias de hoje, os homens vêm criando tratados, feito
estudos e reflexões sobre a paz como proposta de harmonização da sociedade. As
fontes são muitas, desde documentos feitos por organizações internacionais e
nacionais até uma imensa bibliografia de pesquisa, das quais, eu posso citar:
1-
REFLEXÕES SOBRE A PAZ. RUTH BRASIL MESQUITA - ROBERTO
ASSAGIOLI. EDIÇÕES PROPAZ;
2-
A ARTE DE VIVER EM PAZ (PARA UMA NOVA CONSCIÊNCIA / POR UMA
NOVA EDUCAÇÃO). PIERRE WEIL. EDITORA
GENTE;
3-
EDUCAR PARA A PAZ EM TEMPOS DIFÍCEIS.
JESUS R. XÁRES. EDITORA PALLAS ATHENAS;
4-
EDUCAÇÃO PELA PAZ (UM GUIA PARA PAIS, PROFESSORES E
TODOS OS ESTUDADNTES DA VIDA). CLÓVIS NUNES. EDITORA CASA DA PAZ ;
5-
EDUCAÇÃO PARA A PAZ (SUA TEORIA E SUA PRÁTICA). XESÚS R.
JARES.M ARTMED EDITORA;
6-
A PAZ TAMBÉM SE APRENDE. NAOMI DREW. EDITORA GAIA;
7-
APRENDER NA VIDA, APRENDER NA ESCOLA. T. DEICAL. ARTMED EDITORA;
8-
AULAS DE TRANFORMAÇÃO (PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES
HUMANOS). MARILU MARTINELLI. FUNDAÇÃO PEIRÓPOLIS EDITORA;
9-
CONVERSA
SOBRE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS. MARILU MARTINELLI. FUNDAÇÃO PEIRÓPOLIS
EDITORA;
10- A PAZ
DE ESPÍRITO (PARA VIVER BEM CONSIGO E COM OS OUTROS). ANA PERWIN FRAIMAN.
EDITORA GENTE;
11- COMO
RESTAURAR A PAZ NAS ESCOLAS. (UM GUIA PARA EDUCADORES). ANTÔNIO OSÓRIO
NUNES. EDITORA CONTEXTO;
12- A PAZ É
O CAMINHO (ACABANDO COM A GUERRA E A VIOLÊNCIA). DEEPAK CHOPRA. EDITORA
ROCCO;
13- BLOG
EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA DA PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA ATIVA = http://educapaz-jaiartes.blogspot.com/;
14- PÁGINA
DO FACEBOOK EDUCAÇÃO PARA UMA CULTURA DA PAZ E NÃO
VIOLÊNCIA ATIVA: https://www.facebook.com/jaiartes;
16- PÁGINA DA UNESCO (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA): http://www.unesco.org.br;
20- ETC.